terça-feira, 13 de abril de 2010

Economia do Mar em Portugal com potencial para valer 1/3 do PIB em duas décadas

Plataforma Continental apresentada hoje. A Economia do mar pode valer mais de 1/3 do PIB em duas décadas
Extensão de plataforma continental é apresentada hoje na ONU e prevê prolongamento da costa para as 350 milhas.
Portugal pode ter nas próximas duas décadas mais de 1/3 do valor da riqueza produzida (PIB) proveniente de actividades económicas relacionadas com o mar. É a conclusão retirada por José Poças Esteves, o sócio-gerente responsável pela estratégia e competitividade da SAER, e co-autor de um estudo realizado em 2008 a pedido das 20 maiores empresas portuguesas e coordenado pela Associação Comercial de Lisboa.

Esta nova noção das dimensões económicas do país surge no contexto da apresentação, hoje, pelo responsável da Estrutura de Missão para a Extensão de Plataforma Continental (EMEPC) nas Nações Unidas, em Nova Iorque, dos fundamentos jurídicos, científicos e técnicos da candidatura nacional à extensão da plataforma continental (das 200 milhas, correspondente aos limites da actual Zona Económica Exclusiva, ZEE, para as 350 milhas ou até 100 milhas para além da batimétrica dos 2500 metros).

"Não lhe chamaria uma nova utopia. Mas esta questão do mar pode tornar-se o grande desígnio nacional nas próximas décadas. Pode mudar completamente o paradigma e representar mesmo mais de 1/3 do valor do PIE nacional", diz Poças Esteves ao Diário Económico. Para o sócio do ex-ministro das Finanças, Ernâni Lopes, "isto significa deixarmos de estar no canto da Europa e podemos passar a ser considerados um país central em termos de comunicações marítimas e não só", acrescentou Poças Esteves. Mas há mais: Portugal, segundo o mesmo responsável, pode ainda tornar-se no "5º país da Europa em termos de dimensão territorial e no 15º do mundo, incluídas as economias emergentes como as da China, Índia, Brasil, etc.", disse Poças Esteves.

De facto, com a nova economia do mar cria-se um paradigma diferente e contrário ao actual modelo de desenvolvimento em que Portugal "não consegue afirmar-se em termos internacionais, porque não tem uma voz", releva este responsável pelo estudo que já em 2008 determinava que "facilmente a dimensão económica poderia atingir os 11% do PIB em termos de valor económico potencial, excluindo o turismo". Esse trabalho incluía apenas o turismo náutico.

Ainda segundo Esteves Poças, "o impacto económico é o mais importante de todos", E explica a razão: "Porque temos 23 vezes mais território marítimo do que terrestre". Em seis meses Poças Esteves acredita "totalmente" que a ONU poderá dar resposta positiva ao projecto de expansão marítima hoje apresentado por Portugal. E explica: "Porque está muito bem elaborado e tem um levantamento geológico do fundo do mar muito exaustivo e muito bem feito. Aquilo que nós avaliámos no outro estudo foi o aproveitamento económico potencial para o futuro".

Este responsável defende ainda que é perfeitamente viável para Portugal controlar a nova costa redimensionada. "Temos todas as condições para o fazer e para controlar em termos de segurança e de exploração de recursos", afirma. "E creio que a resposta da ONU será positiva, porque as 150 milhas que Portugal quer crescer são actualmente território de ninguém. Por isso, julgo que não há nenhum perigo de a resposta ser negativa".

"Por outro lado, não é possível desligar esta da questão dos novos submarinos que Portugal se prepara para comprar, porque julgo poderem ser um meio privilegiado de controlo e de capacidade tecnológica de exploração de recursos e de investigação a vários níveis", acrescente Poças Esteves.

Além disso, Portugal tem capacidade de exploração e de investigação para toda esta grandeza em termos de milhas marítimas., porque tem por exemplo investigação náutica em Aveiro, nos Açores e um centro de robótica submarina do Instituto Superior Técnico que te agora instalações em Cascais.


Há petróleo a três mil metros

"É muito provável que exista petróleo explorável nestes mares, porque há manchas de crude a 3 mil metros de profundidade e hoje é possível explorar petróleo a sete mil metros de profundidade", diz Poças Esteves, sócio-gerente responsável pela estratégia e competitividade da SAER . "No futuro, e deste ponto de vista, poderemos vir a ser controlados pelos brasileiro e por outras potências que se dedicam à exploração de petróleo. Os brasileiros, designadamente, porque controlam e têm adquirida toda a tecnologia de exploração existente no mundo", disse.


Como Portugal pretende crescer mais 150 milhas

Fundamentos da plataforma continental hoje apresentados.

Os recursos descobertos e por descobrir na nova plataforma continental - ou parcela territorial marítima - que Portugal pretende ver aumentada das 200 para as 350 milhas podem tornar-se "a alavanca para um grande desenvolvimento nacional", disse Manuel Pinto Abreu ontem à agência Lusa.

O responsável da Estrutura de Missão para a Extensão de Plataforma Continental (EMEPC) apresenta hoje nas Nações Unidas, em Nova Iorque, os fundamentos jurídicos, científicos e técnicos da candidatura nacional à extensão da plataforma continental (das 200 milhas, correspondente aos limites da actual Zona Económica Exclusiva, ZEE, para as 350 milhas ou até 100 milhas para além da batimétrica dos 2500 metros). E garante: "Ainda está por descobrir o primeiro metro quadrado no fundo do oceano sem interesse". Após a submissão dos fundamentos técnicos à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) das Nações Unidas, actualmente presidida pelo brasileiro Alexandre Tagore Albuquerque, a proposta portuguesa será objecto de uma "avaliação técnica e de profundidade" por uma subcomissão emanada da CPLC.

Além disso, o subsolo marinho que poderá ser acrescentado à jurisdição portuguesa em resultado da extensão da plataforma continental nacional apresenta "vários e extensos" depósitos passíveis de conter hidrocarbonetos como petróleo e gás natural.

Manuel Pinto de Abreu salientou, contudo, que a probabilidade de existir petróleo ou gás natural "carece de ser confirmada". "O projecto de extensão da plataforma continental não é orientado à prospecção de recursos naturais. Terá que ser feito um trabalho de intensidade e dedicado para a prospecção de recursos naturais, o que o próprio projecto de extensão da plataforma está de alguma forma a fazer. Só depois dessa prospecção podemos avaliar a probabilidade da existência desses recursos", enfatizou.

O responsável da EMEPC calculou que sejam necessários pelo menos três anos para validação de "indícios seguros" sobre a existência de hidrocarbonetos e cerca de 10 anos para desenvolver a sua exploração.

Paralelamente aos hidrocarbonetos, a plataforma continental estendida apresenta diversos metais e "um sem número de minerais e de recursos vivos com diferentes utilizações industriais" - o recurso com "maior potencial", em sua opinião.

O que existe e as condições de exploração
Aludindo à descoberta recente de uma "boa bacia de retenção" ao largo dos Açores pela missão de exploração do leito e subsolo marinho (baptizada "fried egg" pela sua forma característica), Manuel Pinto de Abreu admitiu existirem "vários e extensos" depósitos similares na plataforma continental estendida que poderá ser reconhecida a Portugal. E acrescentou: "Sabemos que há hidrocarbonetos, eles existem, é preciso ver de que tipo existe e quais as condições de exploração". "O que temos detectado é que existem bons indícios de que possam haver diferentes tipos de hidrocarbonetos. Essas áreas são bastante generalizadas na totalidade do espaço da plataforma continental estendida", afirmou, especificando que esses recursos estão disseminados pelas três áreas (continente e regiões autónomas da Madeira e Açores). "O grande interesse está ao nível dos chamados recursos genéticos, as pequenas moléculas e micro organismos na maior parte constituem uma novidade para a ciência", comentou.
2010-04-13 09:31
Miguel Costa Nunes, Diário Económico

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